Como a comunicação não violenta me aproximou do meu filho Flavia Garcia 5 de março de 2021

Como a comunicação não violenta me aproximou do meu filho

Quando menina ouvia sempre: “criança é a última que fala e a primeira que apanha”. Não era assim só na minha família, isso acontecia em quase todos os lares do norte de Minas nos anos 70. As regras sempre foram muito claras: adulto mandavam, crianças obedeciam. E tínhamos que obedecer, se não o fizéssemos o castigo era certo (broncas, puxões de orelha, cintadas).

Assim assimilei a informação de que havia uma hierarquia muito bem marcada nos relacionamentos familiares, fossem entre pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos. Adultos tinham poder sobre as crianças. O que eles diziam eram lei, cabendo às crianças abaixarem a cabeça e obedecer, claro, sem questionar.

Cresci e cresci desejando não ter filhos. Achava a responsabilidade de educar seres humanos para a vida muito pesada pra mim. Imaginava que eu não seria capaz e que não teria forças para arcar com as consequências de uma educação falha – caso eu falhasse. Desde jovem pensava que eu seria a única responsável pelo ser humano no qual o meu filho se tornaria. Se ele virasse um marginal ou delinquente, seria julgada por isso. Só de supor uma situação dessas já excluía qualquer hipótese de eu me tornar mãe.

A comunicação não violenta me aproximou do meu filho

Bem, quis a vida. E quando meu filho nasceu em 2000, me vi exatamente diante da responsabilidade de educá-lo. Baseada nas minhas experiências pessoais, achava que agora era minha vez de assumir o comando. Eu tinha o direito de mandar nele e era sua obrigação me obedecer. Mas, como você deve imaginar… Quanto mais eu o mandava, mais ele – categoricamente – se recusava a fazer o que eu falava. Quanto mais eu fazia o uso da autoridade, mais ele se rebelava contra mim. Acabamos entrando em uma luta acirrada pelo poder. Nossas discussões diárias eram intermináveis e desgastantes, estavam minando o nosso relacionamento.

“Mal sabia eu que o meu maior desafio seria o de abandonar a crença de que as crianças tinham a obrigação de obedecer aos pais.”

Eu estava repetindo os padrões de comportamento que tinha aprendido como “certo”. Mas, ao mesmo tempo, mesmo que a minha consciência me impedisse de usar a força para que ele me obedecesse, eu me sentia culpada por tratar meu filho de forma dura, punindo-o e usando palavras rudes.

Procurando por soluções, revisitei toda a minha história e encontrei explicações nas minhas próprias experiências. Não tive outra opção a não ser rever meus conceitos e mudar meu comportamento. No entanto, por mais que me esforçasse para ser uma mãe mais amorosa e compreensiva, eu não sabia como fazer isso.

Assim sendo, na busca por uma maneira mais justa e pacífica de lidar com meu filho acabei conhecendo a comunicação não violenta (CNV). Você já ouviu falar?

Bem, a comunicação não violenta é uma forma valiosa de comunicação. Ela foi criada nos anos sessenta, pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg. Ele mesmo tinha sido alvo de violência verbal e corporal, desde a infância. Por estar convencido de que a predisposição de uma pessoa à violência, está ligada diretamente à linguagem com a qual ela foi educada, ele criou esse método que permite às pessoas se comunicarem com respeito e no mesmo nível de igualdade. Através dela, consegui mudar o meu modo de falar e consegui, finalmente, dialogar e me aproximar do meu filho.

Meu filho me fez amadurecer

Quando ingressei em um grupo de estudo sobre a comunicação não violenta, em 2009, através de exercícios práticos, sob o olhar cuidadoso e atencioso do nosso facilitador, pude olhar os medos, as inseguranças que existiam por detrás dos meus comportamentos e ali aprendi como acolher e transformar esses meus sentimentos. E esses meus esforços me levaram a concluir que o meu filho era o meu maior mestre na arte de me comunicar. Sabe por quê?

Porque podemos deletar amigos do Facebook caso eles nos magoem, somos capazes de virar a cara para um colega de trabalho que não nos é simpático, conseguimos nos afastar daqueles parentes que nos chateiam, podemos até pedir demissão do trabalho se estamos insatisfeitos ou nos separar dos nossos parceiros se estamos infelizes. Mas, com um filho não podemos, na verdade, não somos capazes de fazer qualquer coisa do tipo. Nem quando ele nos tira do sério, nos desobedece, nos provoca… Nossos filhos são as únicas pessoas das quais jamais poderemos nos separar. Ele estará para sempre ao nosso lado, desafiando nossos limites, cobrando o nosso olhar atento para as nossas próprias fragilidades e nos obrigando a crescer.

De fato, hoje sou tremendamente grata ao meu filho por ele ter chegado, sem avisar, e ter virado a minha vida de ponta cabeça. Graças a ele fui “obrigada” a mudar. Foi por ele, pelo bem da nossa relação, que abandonei velhas crenças e comportamentos, que superei obstáculos, que me fortaleci (e me fortaleço diariamente) na tentativa de me tornar um ser humano melhor.

Nesse processo de aprendizado, eu me encontrei como mãe, e mais, me redescobri como profissional. A comunicação não violenta mudou a minha vida de tal forma, ela me ajudou tanto, que hoje atuo coach em CNV, pois quero mostrar para outras pessoas que existe outro caminho, que tem uma forma diferente de se expressar através de uma linguagem baseada na empatia, no amor e na generosidade. Que funciona, eu garanto!

Se quiser saber mais sobre a comunicação não violenta (CNV) entre em contanto comigo, ficarei muito feliz em te conduzir para esse novo mundo.