Como mediar brigas entre seus filhos com empatia Flavia Garcia 15 de julho de 2021

Como mediar brigas entre seus filhos com empatia

“Mama, der Allan ärgert mich”, “mamãe, o Allan está me provocando”, essa foi uma das frases que eu mais ouvi da minha filha, durante toda a sua infância. Ela se referia ao irmão, cinco anos mais velho. Seus gritos, vindos de algum cômodo da casa, eram estridentes e duradouros. Só de ouvi-los, eu ficava toda aflita e queria acabar logo com aquilo. Então, o meu primeiro impulso era ir até os dois e pedir a ele que parasse de provocá-la.

É inevitável que os irmãos tenham desentendimentos entre si. Mas, como agir de forma justa e empática nessas situações? Como levar as necessidades dos seus rebentos a sério e ajudá-los a resolver suas desavenças? É sobre isso que vamos falar nesse artigo, o quinto e último da série CNV Pais e Filhos.

Caso você não tenha lido os artigos anteriores, sugiro que corra lá e dê uma olhadinha nos textos já publicados. Lembrando que no último deles discorremos sobre o tema Você costuma dar recompensas para o seu filho? Se sim, cuidado! Nele comentei as consequências negativas que as crianças podem sofrer, ao ganharem recompensas para realizarem as vontades de seus pais.

Bem, hoje falaremos sobre as desavenças entre irmãos e como mediá-las com empatia. Desde já posso te garantir que eu mesma aprendi muito ao escrever sobre esse assunto. Espero, de verdade, que você possa aprender também. Vamos lá?

As crianças são seres humanos plenos, assim como os adultos

Um passo primordial para esclarecer brigas entre irmãos, é lembrar que as crianças, apesar de pequenas, são seres humanos plenos, assim como os adultos. E não é por elas serem menores, que os pais podem diminuir os seus problemas ou tratá-los de qualquer jeito.

Um exercício interessante seria se perguntar se você gostaria de ser tratado da mesma forma como está tratando suas crias.

Coloque-se no lugar delas, até mesmo imagine uma cena: você combinou com o seu esposo de assistir televisão e está toda empolgada para ver um filme romântico com ele. Daí ele liga a TV e decide, por conta própria, que vocês irão assistir um Thriller. Isso te deixa irritada e você começa a argumentar com ele dizendo que a sua atitude é injusta. Nisso, chega uma terceira pessoa, talvez a mãe de um de vocês, tira o controle da mão dele e desliga a televisão. E manda os dois para debaixo do chuveiro. Você acharia isso justo?

Assim como nós, as crianças também querem ser levadas a sério. Então, como reagir diante de uma situação como essa? Bem, a primeira coisa a se fazer é observar a reação das crianças e ver se elas estão mesmo precisando de ajuda. Se você perceber que os ânimos estão ficando exaltados, pode ir até elas e falar: “Estou vendo que vocês estão bem nervosos. O que está acontecendo?”, e escutar o que cada um tem a dizer.

Escutando sem julgar

Suponhamos que o seu filho mais velho diga: “Eu disse para ela que queria assistir o desenho Ninja, hoje à tarde, e ela simplesmente ligou a televisão e começou a ver Barbie! E agora não quer me dar o controle.” Na sua fala você já vai obter uma informação valiosa, ele está se abrindo com você e expressando uma necessidade. Isso, por si só, já merece ser validado. Para ele se sentir visto, é importante você resumir o que acabou de ouvir, dizendo algo como: “Você quer ter o direito de assistir o seu desenho. É isso?”.

Vale lembrar que ouvir com empatia é entender o que a criança está precisando, sem julgar, analisar ou procurar uma solução.

Daí você pode se voltar para sua filha e perguntar: “E você? Por que está nervosa?” Pode ser que ela te responda: “Ele está mentindo! Toda vez é ele quem escolhe o que quer assistir e não me deixa ver nada. Ontem foi a mesma coisa. Ele se acha o dono da televisão.” Novamente, é fundamental fazer um resumo do que ouviu: “Você gostaria que ele falasse o que de fato aconteceu e que te deixasse ver o seu programa? E quer que o tempo de vocês seja dividido de forma justa, é isso?” Provavelmente ela responderá qualquer coisa assim: “Sim, hoje é a minha vez. Ele já assistiu seu desenho ontem.”

Você percebeu que nesse exemplo, a mãe não tomou partido de nenhum dos dois e nem disse a eles o que fazer? Isso é fundamental para que eles tenham autonomia e aprendam a esclarecer suas desavenças sozinhos. Só com o fato de perceberem que seus sentimentos e desejos foram validados, eles já estarão mais dispostos a dialogar e a colaborar.

A mãe do exemplo acima poderia ainda incentivá-los a encontrar uma solução, dizendo: “Realmente será difícil vocês assistirem programas diferentes ao mesmo tempo, na mesma televisão. Mas, tenho certeza de que entrarão em um acordo. Eu vou até à cozinha, se precisarem de ajuda, me chamem, ok?”

A intervenção como fator de proteção

É claro que nem sempre é simples resolver tais conflitos. Pode ser que uma briga se escale a tal ponto que um deles jogue um objeto no outro, ou que se peguem aos tapas. Nessas situações, é necessário que os pais intervenham diretamente, separando e colocando-os em segurança. Mas, mesmo nesses casos, a comunicação não deve ser interrompida. Os pais precisam continuar dialogando com os dois, com respeito, sem ofendê-los. O que não significa ser bonzinho e fazer de conta que não está acontecendo nada.

No exemplo de agora uma boa intervenção seria dizer qualquer coisa nessa linha: “Puxa vida, vocês chegaram a este ponto de se baterem e se machucarem. Isso me deixa aflito, porque fico com medo de que vocês saiam feridos dessa história. Por favor, se acalmem e esfriem a cabeça. Daqui a pouco nós todos conversaremos sobre isso, ok?”

Quando todos estiverem mais calmos, os pais poderão chamá-los, ouvir cada uma das partes com atenção e boa vontade. E incentivá-los a falar dos seus motivos e dos seus sentimentos, buscando sempre uma solução satisfatória para ambos.

O que não dizer às crianças

Esse é um comportamento bem diferente do que estamos acostumados, não é mesmo? Na maioria das famílias os diálogos, até algumas décadas atrás, pouco contribuíam para que os rebentos aprendessem a tratar uns aos outros com respeito e igualdade. Pelo contrário, eles os induziam a se comunicarem de forma rude. Infelizmente, algumas dessas falas continuam sendo repetidas até hoje, por exemplo: “Parem já com isso, meninos! Quem foi que começou essa bagunça?” O que os pais não sabem é que ao falar assim, estão incentivando, inconscientemente, as crianças a procurarem um culpado em caso de desentendimento. Ao invés de ensiná-las a falar o que sentem e pensam.

Outra frase nada eficaz é dizer: “Vocês não têm vergonha de brigar por uma besteira como essa?” É como se os pais estivessem dizendo que os problemas deles são menores que os seus. E que por serem pequenos, não merecem a devida atenção. Isso fará com que as crianças não se sintam à vontade para falar sobre suas questões.

Mais uma fala que não ajuda é: “Pelo amor de Deus! Vocês só me dão trabalho. Qualquer dia terei um ataque do coração!” Ela gera uma certa culpa no receptor, levando-o a se sentir responsável pelos sentimentos dos pais. Assim, quando a criança crescer, provavelmente, fará o mesmo e irá sempre procurar um culpado para os seus problemas. Talvez apontando o dedo para os pais, esposa, chefe ou até mesmo para os próprios filhos.

Bem, como você pode perceber, a postura dos pais diante das desavenças de suas crias, será determinante para suas relações futuras. Através dela, eles aprenderão a se responsabilizar pelos próprios sentimentos, a dialogar e a procurar soluções justas em caso de desentendimentos, ou, simplesmente, a procurar culpados para suas adversidades.

Relembrando os passos para a resolução empática de conflitos são:

escutar os filhos com atenção;
levar seus sentimentos a sério e tratá-los com respeito.
dizer-lhes o que está observando e como se sente diante da situação.
Com isso, eles poderão se sentir seguros e estarão dispostos a contribuir para o bem-estar de todos.

Assim, chegamos ao fim dessa série de artigos sobre a CNV Pais e Filhos aqui no blog. Foi uma grande satisfação trazer esse conteúdo para você que, na minha opinião, é de grande utilidade. Espero, de coração, que eles tenham contribuído para um relacionamento mais pacífico entre você e seus rebentos.

Não perca os próximos artigos do blog.

Até breve!