Qual é a imagem que te vem à cabeça quando você ouve falar de violência? Imagino que seja de algum tipo de agressão física contra alguém, acertei? Pois é, estamos acostumados a fazer essa associação. E quando falamos de crianças, logo lembramos daquelas imagens que vemos nos meios de comunicação, cenas de maus tratos físicos como punições, surras, castigos ou até mesmo abusos sexuais, não é mesmo? Mas vou te contar uma coisa, a violência pode se apresentar de várias formas e às vezes ela é tão sutil que nem a percebemos como tal.
Nesse texto vou mostrar três formas de violência contra as crianças que quase sempre passam despercebidas, assim você pode começar a se auto-observar e quem sabe passar a praticar uma comunicação mais amorosa e menos agressiva.
Em um sentido mais amplo, podemos dizer que tudo aquilo que fere a integridade de uma pessoa e a leva a se sentir inferior ao que é, é uma forma de violência. E entre as inúmeras formas invisíveis de violência está aquela por trás das palavras ditas, que podem impactar negativamente e deixar marcas profundas, sobretudo, nas crianças, por ainda estarem formando suas personalidades.
Exemplos disso são aquelas falas que despertam sentimento de culpa, inferioridade, desprezo, rejeição e até mesmo ódio. Normalmente fazemos isso com a melhor das intenções, mas, no fundo, essas nossas palavras mais ferem do que educam.
Para ajudar nesse seu caminho em busca de uma comunicação mais gentil, selecionei três palavrinhas, super comuns na nossa cultura, que machucam muito mais do que você pensa.
A palavra “mas” para relativizar o desempenho do seu filho
Quantas vezes não falamos frases, como: “Você até que tirou uma nota boa na escola, ‘mas’, se tivesse estudado mais teria tirado dez.” ou “Você até arrumou o seu quarto direitinho, ‘mas’ se tivesse tirado o pó dos móveis, ele estaria perfeito.”
Expressões como essas, podem soar muito naturais e até mesmo demonstrar a sua boa intenção em incentivar seu filho a melhorar o seu desempenho. Porém, tais palavras podem ter consequências destrutivas na sua vida futura. Provavelmente, a mensagem que ficará gravada na sua mente é a de que ele não é bom o suficiente. Mesmo que se esforce, estará sempre faltando algo para atender as expectativas dos seus pais. Sempre tem algo – o tal do “mas” – que o impede de atingir a sua tão almejada perfeição.
E caso seu filho cresça com essa convicção de ser insuficiente ou até mesmo incapaz, isso certamente o tornará um adulto inseguro e com baixa autoestima. Por sua vez, esses sentimentos poderão bloqueá-lo, levando-o a ter dificuldades nas áreas profissionais e de relacionamentos.
A palavra “mais” para comparar seu filho com outra criança
Outra forma sutil de violência é quando você usa a palavra “mais” para comparar o desempenho ou aparência de seu filho com a de outra criança. Veja esses exemplos: “Eu acho a sua irmã ‘mais’ bonita do que você“, ou, “Você é uma menina esperta, mas a sua prima é ainda ‘mais’ inteligente do que você.”
Só de ouvir essa última frase, sinto, ainda hoje, um grande peso nos ombros. Isso porque eu mesma a ouvi repetidas vezes de uma tia, que também era minha professora do primário. Ela vivia me comparando com a minha prima Lúcia, no intuito de me incentivar a estudar mais e tirar notas mais altas. Porém, o que suas palavras causavam em mim era apenas frustração e sensação de inferioridade, pois, por mais que tentasse e me esforçasse – eu, realmente, queria que ela se orgulhasse de mim e me elogiasse – sempre ouvia o mesmo comentário, prova pós prova.
Com o tempo passei a acreditar que eu era mesmo inferior, já que nunca conseguia ser boa o suficiente para ela. Triste isso, né?
Portanto, esteja atento a esse tipo de comparação. Se o seu filho ouvir repetidamente a palavra “mais” para ressaltar o desempenho de outra criança, ele poderá, assim como eu, acreditar que isso é verdade e se sentir inferior aos demais. E o grave é que essa crença poderá levá-lo, na vida adulta, a se sentir menor do que é e até mesmo a se autorrejeitar.
A palavra “se” para convencer o seu filho a fazer algo
Eu sei que como pais, vemos essa expressão como algo inofensivo, mas, no fundo, ela não é. Ao usar a palavra “se” para convencer o nosso filho a fazer aquilo que queremos, estamos fazendo uso do poder. E por ser a chantagem uma forma de coação, ela também é um, quase imperceptível, ato de violência contra a criança. Que uma vez mais, pode desencadear sentimentos negativos.
“’Se’ você não obedecer à mamãe, eu vou ficar triste.“; “’Se’ você não tirar notas boas, o papai vai ficar decepcionado com você.“
Frases como essas podem levar uma criança a se sentir responsável pela felicidade dos pais e culpada, caso não consiga atender suas expectativas. Além disso, por ter receio de decepcioná-los ou de ser punida, ela pode passar a se “obrigar” a fazer aquilo que não gosta ou não quer.
Como consequências, por aprender a focar a sua atenção no bem-estar dos outros, ela pode acabar ignorando as suas próprias necessidades. Ou seja, com o passar do tempo ela poderá desenvolver dificuldades para falar não, ter problemas para expressar o que pensa e até mesmo não se sentir segura e capaz de saber o que quer.
Bem, como vimos, as palavras podem ferir, magoar e nos marcar para sempre.
“Precisamos ficar atentos e zelar pela comunicação que temos com nossos filhos, pois as palavras influenciam na formação da personalidade das pessoas.”
Infelizmente todos nós fomos submetidos a alguma forma destrutiva de comunicação, já que nossos pais e educadores não sabiam fazer diferente. Eles simplesmente nos repassaram os ensinamentos que receberam das gerações passadas. Mas, nós podemos fazer diferente. Nós sabemos que as nossas falas podem curar ou ferir, unir ou separar, construir ou destruir.
Dada a atual situação mundial de intolerância e violência física contra diferentes povos e raças, torna-se fundamental tomarmos consciência do poder de nossas palavras. E assim, educarmos nossos filhos para uma cultura de paz, tolerância e respeito.
Se você quiser aprender a se comunicar de maneira mais delicada com seus filhos, fique à vontade para me contatar. Vai ser um prazer ajudá-lo.