Saiba como surgem os conflitos em família Flavia Garcia 5 de março de 2021

Saiba como surgem os conflitos em família

Você sente que na sua família ninguém se entende? Que um fala uma coisa, outro entende outra ou que as perguntas sempre voltam com respostas enviesadas e que quando você se dá conta a confusão já está dominando a sua mesa do jantar? Você se sente compreendida em meio a isso tudo? Onde estão as suas necessidades?…

Eu já! Já me vi e me senti assim muitas vezes e foi por isso que fui atrás para entender as causas dos desentendimentos na minha família e então descobri que os conflitos surgem quando as necessidades de uma pessoa não são atendidas. E que uma solução eficiente, para que realmente haja harmonia em uma família, é que as necessidades de todos, tanto dos filhos quanto dos pais, sejam consideradas.

Foi com esse aprendizado que iniciei a semana CNV Pais e Filhos que promovi no meu Instagram, em fevereiro deste ano. Durante cinco dias abordei alguns conteúdos, que julgo essenciais, com o objetivo de mostrar aos pais uma maneira mais empática e respeitosa de se comunicar com seus filhos. E para auxiliar ainda mais pessoas trago esse conteúdo aqui para o blog, em uma série de cinco textos. Como nesse espaço não temos limitações de tempo, resolvi passar ainda mais detalhes para você. Aproveite!

Talvez você já esteja se perguntando: “Como assim, Tânia? O que você quis dizer com ‘necessidades não atendidas geram conflitos’?” Bem, vamos lá.

A origem

Tudo começa com a maneira como uma pessoa comunica o que está sentindo e observando diante de uma situação e como a sua fala chega até o outro. Dependendo da forma como isso acontece, pode tanto surgir espaço para um diálogo sincero, como gerar uma discussão.

Por exemplo, se uma mãe, ao ver peças de roupas do seu filho de dez anos, espalhadas pelo chão do seu quarto, diz „Você é mesmo um preguiçoso! Por que você não toma vergonha e arruma essa bagunça no seu quarto? “, provavelmente não conseguirá o que deseja. O menino, ao invés de retirar as roupas do chão e as colocar em seu devido lugar, certamente irá protestar e responder no mesmo tom rude com que a mãe tentou se expressar.

Você percebe como uma discussão boba começa em segundos? E que esse tipo bate-boca poderá durar horas? Tradicionalmente cada qual seguirá argumentando com o seu ponto de vista, sem chegarem a um denominador comum.

O conflito

O caso acima é típico, porque em grande parte das vezes nem mesmo a mãe sabe dizer o que ela quer. O que ela mais precisava era falar de um modo em que o entendimento de suas necessidades ficasse mais evidente, mas para isso ela teria que primeiro esclarecer, para si mesma, algumas questões:

O que eu estou realmente vendo?
O que essa situação desperta em mim?
O que eu preciso para estar bem?
O que eu gostaria que meu filho fizesse de concreto para contribuir para o meu bem-estar?
Cá entre nós, não é bem assim que raciocinamos, não é? Quantas vezes não nos pegamos pensando ou dizendo: „Quando eu estava com sua idade, tinha que arrumar meu quarto sozinha e quero que você faça isso também“? Ou „Eu quero que você aprenda a ser uma pessoa responsável e organizada“? Ou ainda „O que os outros vão pensar ao verem tamanha bagunça no seu quarto? Provavelmente irão pensar que eu sou uma mãe desleixada?“ Porém, isso nada diz sobre o que ela de fato sente e deseja.

Isso é, a solução mais efetiva seria a mãe parar para pensar sobre seus verdadeiros motivos, pois enquanto não o fizer, poderá continuar misturando um fato com uma crítica, um julgamento ou uma interpretação. O que dificultará ainda mais o diálogo com seu filho.

Ao se auto interrogar, talvez ela chegue à conclusão de que o importante para ela é manter a casa em ordem. Então ela será capaz de explicar ao filho as suas reais necessidades. „Filho, estou vendo todas essas roupas no chão do seu quarto e isso me deixa nervosa e irritada, pois a mamãe precisa que a casa esteja em ordem para ficar tranquila. Você poderia me ajudar colocando as roupas limpas no guarda-roupa e as sujas no cesto do banheiro, por favor?”

Notou a diferença? No primeiro caso, ela o chama de preguiçoso, sem dizer o que sente e o que gostaria que ele fizesse. No segundo, ela explica os seus porquês e faz um pedido claro.

Por que não sabemos expressar nossas necessidades?

Imagino que você esteja se fazendo essa pergunta e a resposta para isso apesar de simples, não é fácil de se aplicar. Não sabemos por que não aprendemos a fazê-lo, nem na escola, nem em casa, nem no trabalho. Apenas vivemos replicando os exemplos que nos foi passado e continuamos passando adiante o que aprendemos.

Veja só, nós mulheres aprendemos a ser mães pelo que vimos e ouvimos das nossas mães, tias e avós, as quais aprenderam com as suas ancestrais. Que, por sua vez, cresceram em uma sociedade, na qual o papel da boa mãe estava associado ao sacrifício e a negação de suas próprias necessidades. O que as levaram a memorizar a informação de que não tinham o direito de expressar o que sentiam. Tanto que passaram suas vidas cuidando dos outros em silêncio, abdicando de seus desejos.

Por aprender a ser mãe com elas, eu também assimilei a informação de que família vem em primeiro lugar. E, assim como elas, não aprendi a dizer o que eu precisava.

Lembro-me bem que quando o meu filho nasceu eu me senti perdida em meio a muitas responsabilidades e tarefas, sem conseguir administrar tudo sozinha. Nessa época meu esposo trabalhava bastante e só chegava em casa por volta das nove da noite. E a única pessoa para quem eu podia pedir ajuda era a minha irmã que morava a uns cem quilômetros de casa. Porém, mesmo estando cansada e esgotada, eu não conseguia falar para ela que precisava do seu apoio. Quando ela veio me visitar para conhecer o sobrinho, tudo o que eu mais queria era que visse minha situação e me oferecesse ajuda, sem que eu precisasse pedir. Mas, como ela não podia ler meus pensamentos, foi-se embora sem dizer nada. E eu fiquei sozinha e sobrecarregada, além de magoada, por ela não ter visto o meu estado. Bem triste, né?

Enfim, podemos perceber que muitas complicações podem nascer bem antes, lá no começo dessa história toda de família. Antes de sermos pai e mãe, somos filhos que aprendemos com os nossos pais e que, agora, reproduzimos seus padrões de comportamento. E é daí que nascem as diferenças e divergências. Normalmente, nenhum dos dois sabem identificar, e muito menos sabem se expressar claramente um com o outro e nem com nossos próprios filhos. O que faz com que as nossas necessidades fiquem pelo caminho e a insatisfação, mágoa e raiva vá corroendo a nossa relação. Precisamos começar a aprender que sem que haja um diálogo aberto e sincero, não há como estabelecer um equilíbrio saudável e sustentável em nossa atmosfera familiar (e profissional!).

Mas, como fazer isso? Como saber? Além disso, quando é que se acha tempo diante de todas as exigências do mundo moderno? Temos tantas obrigações e compromissos, que não temos nem tempo pra gente mesmo!

Como mãe, bem sei que nem sempre é simples se permitir ter necessidades pessoais, muito menos expressá-las de forma clara, mas jamais deixo de buscar por isso.

E se você não sabe colocar isso em prática, fique de olho aqui no blog e leia o próximo artigo “Como expressar suas necessidades e ter mais paz em família”.