A nossa comunicação diz muito mais sobre quem realmente somos, do que podemos imaginar. Essa foi a conclusão que cheguei ao ver a jaqueta do meu esposo sobre o corrimão da escada e refletir sobre aquela cena.
Logo que sai da cozinha dei de cara com aquela jaqueta, parei e respirei, aquilo me incomodou bastante. Fiquei ali olhando para ela, enquanto meu cérebro decidia como reagir. Em fração de segundos uma pergunta surgiu: “Devo ficar nervosa e indignada ou isso é perda de tempo e energia?”. Busquei encontrar a resposta.
Era como se a minha mente estivesse raciocinando sobre qual função deveria acionar: reações de raiva e irritação ou de paciência e compreensão. Ponderação ao qual já estava habituada e por conhecer o desenrolar da cena, parecia ciente das consequências de cada uma delas. Caso reagisse com raiva, isso custaria bastante energia para o meu corpo e o hormônio do estresse se alastrariam por todo ele. Ou, se optasse pela compreensão, nada aconteceria – a não ser ter de aguentar a jaqueta que continuaria lá me incomodando. Como agir?
Talvez a atitude mais prática fosse dependurá-la no cabide e acabar com aquela história logo de uma vez. Mas, não. A verdade é que se eu agisse dessa forma, toda vez que isso voltasse a acontecer eu teria que fazer o mesmo. E o meu esposo nunca notaria o quanto aquela jaqueta deixada ali me incomoda.
E a questão não se encerra aí. Como queria muito entender os meus porquês, não desisti de me questionar: “Por que essa jaqueta tem tanto poder sobre mim?”; “O que ela quer me dizer?”
Pois é… existe algo em mim que roupas fora do lugar tira minha paz de espírito e me arranca suspiros. É como se elas me lembrassem do papel que assumi, e contra o qual ainda reluto, ao constituir uma família: aquele de cuidadora do lar. O que me remete de volta ao passado e me faz enxergar que eu, de certa forma, continuo vivendo a vida das mulheres da minha infância. As mesmas que vi labutando no dia a dia, com mãos calejadas e olhares vazios. Que andavam com passos pesarosos, suspirando entre um afazer e outro.
Inclusive, em meu livro A Menina do Sol em Capricórnio descrevo assim o meu relacionamento com elas: “Foram as mulheres que acompanharam o passo a passo do meu caminhar, que me mostraram o mundo ao meu redor e me educaram. Foi com elas que aprendi a ser mulher. E assim, de imagem e imagem vou tomando consciência da influência determinante desse convívio sobre minha visão de mundo e das relações humanas, já que aprendi a enxergá-lo sob a ótica delas. Na medida em que constato o poder desse aprendizado, me fica claro que no meu convívio com todas essas mulheres, automaticamente brotava em mim um sentimento de solidariedade por elas. Com minhas antenas sensíveis eu julgava captar sofrimento e resignação em seus semblantes, o que me levava a unir-me emocionalmente a elas, em um ato de justiça. Sem que eu percebesse, tomava suas dores e declarava guerra aos homens.”
Sai da cena, mas ela não saiu de mim. E enquanto refletia sobre os meus porquês, encontrei uma frase no site do Instituto CNV Brasil www.institutocnvb.com.br, que fez muito sentido para mim: “Entre o que acontece fora de nós (observações) e a energia de vida das necessidades humanas, existe todo o conjunto de memórias, aprendizados e condicionamentos que desenvolvemos (de maneira consciente, ou não) ao longo da vida, e que formam nosso sistema de crenças, povoam nosso pensar com julgamentos e norteiam nossas decisões, perspectivas e relações”
Logo, entendi que as emoções presentes naquele episódio estavam diretamente ligadas às minhas percepções do passado. O que me permitiu aprofundar minhas indagações sobre quais das minhas necessidades não estavam sendo atendidas naquela situação e qual pedido eu poderia fazer para meu esposo, para me sentir bem. No que diz respeito à primeira questão, desejei incluir na resposta os desejos dessas mulheres que mencionei e poder dar-lhes o que não tiveram. E dessa reflexão, surgiu uma nova dúvida, eu precisava entender ainda se aquilo era realmente meu ou delas.
Será que eu não estava assumindo suas dores? Conclui que, de certa forma, sim. Eu estava ansiando suprir suas necessidades de justiça, igualdade e respeito. Mas, ao mesmo tempo, compreendi que as minhas carências eram outras: divisão igualitária de tarefas e cooperação. Foi dessa forma que consegui, separar nossas histórias e assumir a minha própria – sem deixar, é claro, de acolher as delas também.
Por fim, ao meu marido, disse: “Estou vendo sua jaqueta no corrimão da escada e isso me deixa irritada, pois preciso que a casa esteja em ordem para conseguir relaxar. Você pode dependurá-la no cabide, por favor?”
Naturalmente dei-lhe a liberdade de dizer não, já que aquele era um pedido e não uma ordem. Mesmo assim, todo o percurso percorrido até ali já valera a pena, só pelo fato de ter compreendido o que aquela situação despertava em mim.
Moral da história: ao ver a jaqueta sobre o corrimão, alguns pensamentos passaram pela minha cabeça, mostrando-me tudo o que havia por trás daquela cena. Entendi, que aquilo me remetia às minhas experiências do passado e percebi o quanto ainda tenho uma forte ligação emocional com as mulheres da minha infância. Pude então observar o ocorrido por dois prismas diferentes: aquele que diz respeito ao meu desejo para elas e outro que mostra minhas próprias necessidades. Com isso, consegui esclarecer o que precisava e fazer um pedido claro ao meu esposo.
Todo fato, por mais insignificante que pareça, nos dá a oportunidade de nos olharmos com sinceridade e de nos conectarmos com nossa verdadeira necessidade.
Se você gostou desse artigo e quer saber mais sobre o tema empatia, eu te convido a ler também o texto Empatia X Compaixão daqui do blog.
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