Antes de postar esse texto aqui no blog, me perguntei seriamente se ele se tratava, realmente, do tema comunicação. Depois de muito refletir, cheguei à conclusão que sim, já que comunicar vai muito além de diálogos interpessoais, ou seja, da comunicação verbal. Além dela existem ainda várias outras como por exemplo: não verbal, corporal, visual, auditiva e intrapessoal. O texto abaixo se enquadra nessa última, já que se trata de um diálogo interno, com observações, reflexões, sentimentos e conclusões próprias.
Eu desejo a vocês uma ótima leitura e uma ótima viagem pelas minhas reflexões de Agosto de 2017. Que vocês possam tirar um bom proveito delas!
Dois dias atrás fui fazer minha caminhada costumeira na floresta perto de casa.
Enquanto eu caminhava pela trilha já tão conhecida, cercada pelas árvores familiares, minha mente processava dezenas de pensamentos e informações. Por um lado eu me esforçava em focar minha atenção no presente e sentir tudo à minha volta: o cheiro agradável dos pinheiros, as formas imponentes das árvores antigas, a temperatura agradável, o canto dos pássaros, os ruídos da natureza, a leve brisa acariciando o meu rosto. Enfim, eu queria estar no aqui e no agora.
Por outro lado a minha mente inquieta pulava de um lado para o outro, como um macaco que pula de galho em galho, se agarrando ao primeiro cipó que surge na frente. Ela organizava, planejava, refletia e ponderava sobre os mais diversos temas.
Em meio a todo esse barulho interno eu seguia meu caminho, tentando me silenciar.
De repente meus olhos registraram surpresos uma teia de aranha suspensa no ar, presa por fios invisíveis, entre as árvores dos dois lados do caminho.
Naquele momento minha única reação foi parar diante daquela obra de arte. Eu parei, meu cérebro parou e até mesmo o tempo pareceu parar por uma fração de segundos. Ou será que foram minutos?
Paralisada, eu observava aquela teia de aranha à altura dos meus olhos refletida contra os raios de sol que penetrava por entre as copas das árvores. Meus sentidos se tornaram lentos e aguçados e eu via com clareza tudo que se passava à minha volta, como se assistisse um filme em câmera lenta numa tela de cinema. Registrei a presença de um esquilo que brincava descontraído nos galhos de uma árvore; percebi nitidamente os sons dos pássaros que cantavam alegremente, embelezando a natureza à minha volta; até mesmo as folhagens das árvores pareciam cintilar com mais intensidade, refletidas entre algumas brechas de luz. Naquele momento tudo era paz e perfeição. E silêncio.
Passado um tempo que não sei definir, meu cérebro me trouxe de volta à realidade e voltou a tagarelar: puxa, porque eu não tenho uma câmera fotográfica comigo para registrar esse momento? Porque eu não pensei em trazer o celular? E se eu fosse em casa rapidinho, pegasse o celular e voltasse para fotografar? Será que essa teia de aranha ainda estaria aqui do mesmo jeitinho?
Meu eu racional tinha voltado ao seu módulo funcional e procurava soluções. Meu eu interno estava lento e só queria estar e sentir, sem pressa e sem ação. Ele queria degustar aquele momento lentamente, prazerosamente.
Fiquei ali parada apreciando a perfeição daquela obra de arte sem querer deixá-la sozinha.
Por fim, passei por debaixo da teia, segui em frente meu caminho, caminhando alguns metros até meu ponto de retorno.
Alguns minutos depois estava de volta, plantada exatamente no mesmo lugar, diante da mesma teia. Para minha surpresa, ela já não era mais a mesma.
O sol parecia ter mudado levemente de posição e as copas das árvores pareciam mais fechadas, produzindo mais sombras. A teia não era mais tão visível e seus fios e formas já não eram mais tão nítidos. Foi como se ela tivesse perdido seu brilho e seu encanto.
Pensativa e um tanto decepcionada fiz meu caminho de volta, sem conseguir parar de pensar na experiência única que eu tinha vivido.
Hoje voltei à mesma floresta e percorri a mesma trilha. Levava o celular no bolso, na esperança de encontrar novamente uma teia de aranha perfeita no meu caminho.
Mas dessa vez não encontrei uma teia de aranha perfeita. Ao invés disso, a natureza me apresentou um novo espetáculo, um novo momento de perfeição.
A terra úmida, molhada pela chuva, tinha um cheiro fresco e familiar, o mesmo cheiro dos meus tempos de criança; o cheiro do mato à beira do caminho, recém cortado, deixava seus rastros pela trilha afora, numa mistura de madeira e folhas cortadas; pingos do resto de chuva caiam das folhas das árvores e soavam como uma chuva mansa. A natureza lavada exalava um novo frescor.
Enquanto sentia a natureza renovada à minha volta, não pude deixar de refletir sobre minhas expectativas com relação a pessoas e situações.
Eu me lembrei das tantas vezes que tentei prender com todas as minhas forças um momento de prazer, um sorriso, um olhar carinhoso, um abraço apertado ou um gesto de gratidão, desejando sentir o que me foi prazeroso um dia, exatamente com a mesma intensidade.
Lembrei-me das tantas vezes que cobrei atenção, carinho e lealdade das pessoas e esperei que elas me dessem exatamente o que me deram um dia, me fazendo sentir querida e importante, assim como no passado. Como se fosse obrigação delas fazê-lo.
Lembrei-me de todas as pessoas que tentei prender um dia na minha vida, na esperança de receber delas toda atenção e aprovação, que eu julguei precisar.
Hoje aprendi uma lição com a natureza. Aprendi que nada se repete. Tudo se renova, dia pós dia, minuto pós minuto, segundo pós segundo.
Entendi que cada encontro é único e jamais se repetirá, pois eu mudo a cada instante, assim como as pessoas e tudo à minha volta. Tudo passa, tudo muda, tudo se transforma.
Entender essa verdade acrescentou muito à minha experiência humana, no hoje, no aqui e no agora. E isso me fez entender que eu estou em constante transformação.
Observando a efemeridade de cada instante, posso concluir que já não sou mais a pessoa que era, quando comecei escrever esse texto. Isso porque só o ato de escrever já me acrescentou uma nova experiência. Portanto já sou uma pessoa mais experiente.
Já não sou a mesma.