Já há algum tempo venho pensando sobre o papel da mulher na sociedade, principalmente como educadora dos futuros cidadãos. E quanto mais reflito, mais chego à conclusão de que elas são imprescindíveis para uma sociedade íntegra e de valores nobres.
Pense comigo. São as mulheres que colocam os filhos no mundo, certo? E, quase sempre, são elas que cuidam deles nos três primeiros anos e praticamente ao longo de toda vida. Mais! Quantas não são babás, educadoras, professoras ou orientadoras, e por aí vai?
Não sou eu que estou falando, são os números. Segundo os dados do Inep, órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), em 2019, mais de 80% dos gestores do ensino básico no Brasil eram mulheres. Outra estatística comprova o alto percentual de mulheres em ocupações domésticas, o que demonstra, na prática, a sua participação direta na educação de seus respectivos filhos e até mesmo nos filhos de famílias mais abastadas. Sabemos bem que, geralmente, são elas que passam a maior parte do tempo com as crianças. Nesse caso, os números da Agência Brasil em 2018, apontaram que 92% dos 6,2 milhões de pessoas que trabalhavam com ocupações domésticas eram mulheres, e dessas, 3,9 milhões eram negras.
E no que tange às mulheres negras, penso que sua situação seja ainda mais delicada. Pois, se tratam, na sua maioria, de mulheres de baixa renda, sem escolaridade e em estado de vulnerabilidade social. Além do que elas, infelizmente, ainda são mais desvalorizadas do que as mulheres brancas, que ocupam as mesmas funções.
Digo tudo isso só para ilustrar como a sociedade não enxerga a importância da mulher e o quanto o nosso sistema social não a valoriza. Espera aí, que vou te explicar melhor o que estou falando.
O nosso sistema social não enxerga e não valoriza a mulher como se deve
É evidente e mais do que conhecido a desigualdade da remuneração entre homens e mulheres – isso em todo o mundo. No Brasil, de acordo com os dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de março de 2019, mulheres ganham, em média, 76% da remuneração masculina. Sendo que as negras recebem ainda menos, cabendo a elas 43% dos salários dos homens brancos.
É tudo tão contraditório, não é? De um lado a sociedade não dá valor, de outro ela espera dessa mulher uma doação gigantesca de educar as nossas crianças para serem cidadãs qualificadas e competentes. E digo doação porque é isso que eles pedem: entrega, voluntariado. O que o sistema diz por trás dos seus atos é: .“Olha, eu não te reconheço e não te retribuo como se deve ser por você ser mãe, professora, educadora, babá…mas espero que você faça o que te cabe, pois, o nosso futuro está em suas mãos.”
O paradoxo feminino de promover valor sem se sentir valorizada
Aos meus olhos parece óbvio que se desejamos ter uma sociedade de pessoas bem preparadas profissionalmente, essas precisam receber uma educação saudável, tanto com ensino de qualidade, quanto com uma base familiar estável. E quanto mais segurança, autoconfiança e respeito as crianças vivenciarem nas escolas, na família e no meio social em que vivem, mais capacitadas e seguras elas serão quando adultos e trabalhadores.
Mas, como ter tudo isso se a mulher – que na maior parte dos casos é a principal encarregada de tamanha responsabilidade – não tem o reconhecimento, o respeito, a valorização, a autoconfiança?
A revolução feminina é inevitável
Já se ouve aqui e ali que uma das qualidades mais importantes do cidadão, profissional do futuro será a inteligência emocional. Isso quer dizer, que ele terá que ser capaz de gerenciar seus sentimentos e emoções de forma equilibrada, ser empático com as pessoas à sua volta e ter capacidade de liderança, levando em conta os valores humanos. Essas qualificações, por sua vez, estão diretamente ligadas à sua criação e educação que cada vez mais devem promover, incentivar, o autoconhecimento, a adaptabilidade, a administração de conflitos, o trabalho em equipe e visão positiva.
Estamos vivenciando uma enorme revolução, a mudança – radical – é inadiável. Mudanças que envolvem absolutamente tudo, desde a redefinição do nosso sistema social até mesmo as profissões e os perfis dos profissionais do futuro. É evidente e se faz urgente uma conscientização da sociedade com relação à importância da mulher nessa e para essa mudança.
E sabe de uma coisa? Isso deve partir não só dos líderes políticos – através de políticas salariais mais justas e igualitárias, programas sociais de conscientização e valorização, projetos de qualificação pessoal e profissional da mulher – quanto de todos nós.
“Precisamos de mais iniciativas que fortaleçam e dignifiquem a mulher e que elas sejam colocadas em prática tanto pelo sistema governamental, quanto pelas elites sociais.”
Precisamos de mais iniciativas, medidas, que fortaleçam e dignifiquem a mulher e que elas sejam colocadas em prática tanto pelo sistema governamental, quanto pelas elites sociais que usufruem diretamente do seu trabalho e têm interesse de que elas eduquem seus filhos da melhor forma. Pois, elas só podem dar aquilo que têm. Não é verdade?
Passou-se o tempo. “Amélias” , “sexo frágil” é coisa do passado. É chegada a hora! As mulheres precisam e devem ter direito ao seu lugar de direito na sociedade. E isso envolve tantas coisas, inclusive, ter o seu trabalho valorizado e remunerado como se deve; serem tratadas em pé de igualdade com os homens – mesmos deveres, mesmos direitos, mesmas oportunidades.
Estudos, estatísticas, exemplos igualmente estão aí para comprovar que a capacidade masculina e feminina é a mesma. Já não faz mais sentido algum, as mulheres serem consideradas inferior do que elas realmente são.
Enfim, a sociedade não pode mais se dar ao luxo de ignorar a importância das mulheres para o futuro da humanidade.
Você também não acha?