Oi, gente. Tudo bem por aí?
Como vocês que me acompanham já sabem, a CNV é a minha grande paixão e tento colocá-la em prática na minha vida, no meu dia a dia. Em busca de adquirir mais conhecimentos na área, tenho me capacitado cada vez mais, seja através de estudos, eventos, palestras etc.
Já fazia um tempão que eu queria passar aqui para falar de uma palestra que eu assisti, há um ano, sobre o tema compaixão e que me deixou simplesmente fascinada. Como a compaixão é um dos elementos centrais da CNV, e essa palestra não saiu da minha cabeça, eu não poderia deixar de compartilhar essa experiência com vocês.
No ano passado, tive a oportunidade de participar do congresso “Achtsamkeit” (Atenção Plena), realizado pela Akademie Heiligenfeld, em Bad Kissingen, na Alemanha. Como todos os anos, o congresso é organizado por esta instituição educacional, que promove o desenvolvimento pessoal e espiritual. Dentre as palestras oferecidas no evento, a que mais me fascinou foi a apresentação de Tanja Singer, que abordou o tema “compaixão” e entusiasmou o público com cerca de mil participantes.
Os questionamentos da neurociência social
Nessa ocasião, a neurocientista Tanja Singer ocupava o cargo de chefe do departamento de neurociência do Instituto Max Planck, em Berlim. Em sua palestra, ela descreveu seu estudo na área da neurociência social, campo da neurociência que se interessa pela interação entre dois cérebros. O objetivo principal dessa área é analisar as emoções sociais dos indivíduos e tentar entender como eles se relacionam no meio em que vivem. No intuito de compreender os comportamentos destes indivíduos na sociedade, a neurociência social questiona:
-O que leva um ser humano a agir com compaixão e empatia?
-Que fatores influenciam no desenvolvimento do seu sentimento de justiça?
-O que, ao contrário, o leva a causar danos aos outros e a ter prazer em prejudicá-los?
Em seu estudo chamado Ressource Projekte (Projeto de Recursos), Tanja analisou as alterações que ocorrem no cérebro de um indivíduo durante a prática contínua da meditação. Para isto, ela selecionou trezentas pessoas sem experiência alguma com a prática de meditar, as quais foram acompanhadas durante nove meses através de um treinamento cerebral específico, para analisar as alterações que ocorrem em seus cérebros durante a prática de exercícios pré-determinados. Nesse período, ela observou não só as alterações cerebrais, mas também as alterações hormonais e o nível de estresse de cada um dos participantes.
As principais perguntas que nortearam a cientista e sua equipe nesse ousado projeto, o maior nesse campo até então, foram:
-É possível aumentar a compaixão de uma pessoa através da prática diária de meditações pré-estabelecidas?
-É possível que essa pessoa aumente a sua capacidade de cooperação, tornando-se mais altruísta?
Num contexto mais amplo, Tanja Singer se perguntava se seria possível transformar o comportamento de indivíduos, tornando-os mais justos, mais cooperativos e mais compassivos uns com os outros, visando o bem-estar de todos. Até que ponto seria possível transformar comportamentos egoístas e destrutivos, como ter prazer em prejudicar os outros, em comportamentos compassivos e altruístas?
O que significa compaixão e altruísmo?
Se esses conceitos não lhe são familiares, pode ser que você esteja aí se perguntando: “Mas o que significa compaixão e altruísmo, afinal de contas?”. Bem, de forma resumida, compaixão é a capacidade natural do ser humano de entender o estado emocional de outra pessoa e de querer contribuir para aliviar o seu sofrimento. Altruísmo é a tendência instintiva do ser humano de se preocupar com o próximo e de contribuir de forma filantrópica para o seu bem-estar, sem interesse algum. Filantropia, nesse sentido, seria um gesto de amor genuíno, um ato de compaixão.
Bem, voltando ao estudo, este foi dividido em três módulos com duração de três meses cada um, com exercícios mentais visando treinar o foco e a atenção plena das pessoas testadas.
Através de meditações específicas de trinta minutos diários, elas foram guiadas a treinar suas emoções, especificamente a gratidão, a compaixão e a percepção cognitiva, ou seja, sua forma de olhar para si mesmo e para o outro de uma perspectiva maior.
As alterações nas conexões neurais dos cérebros
De pé no palco do majestoso salão de ópera em estilo neobarroco, a palestrante irradiava entusiasmo ao mostrar os gráficos e tabelas elaborados durante o estudo. No final de sua apresentação, pôde mostrar as várias observações significativas que fez ao longo desses nove meses.
Ela constatou alterações nas conexões neurais dos cérebros das pessoas testadas, a partir da oitava semana. A curto prazo, as alterações ainda eram imperceptíveis, estas passaram a ser visíveis num prazo mais longo. Concluiu ainda, que cada uma das meditações ativou diferentes regiões do cérebro. Quanto mais essas regiões eram ativadas, mais grossas se tornavam as conexões neurais nesse “campo areal”.
No término do estudo, a cientista pôde concluir que o cérebro, por ser um músculo, pode ser treinado como qualquer outro, mas que para se obter um resultado consistente, deve ser treinado com frequência, pois assim como a musculatura do corpo perde massa muscular, se não treinada, o mesmo ocorre com o cérebro.
Portanto, as pesquisas provaram que a meditação focada, se praticada diariamente, pode contribuir de forma eficaz para desenvolver a compaixão nas pessoas e colaborar para um convívio social mais cooperativo, justo e de maior união.
No final, Tanja Singer foi aplaudida de pé por vários minutos.